O esporte conta com diversas histórias de superação. Nos últimos anos, uma das que mais impactou o mundo do fisiculturismo foi a de Karen Ranocchia, atleta profissional da categoria Wellness que, após vencer a batalha contra um aneurisma - dilatação anormal de uma artéria, que pode se romper e causar uma hemorragia - quer chegar ao Olympia (tido como a "Copa do Mundo" do fisiculturismo, o show mais importante do circuito profissional).
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, a fisiculturista relembra sua batalha contra o problema, comenta seu relacionamento com Rafael Brandão (um dos atletas de maior sucesso e influência no meio) e fala sobre seu sonho de ter uma ONG voltada a ajudar cachorros em situação de rua.
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Luta contra o aneurisma e retorno aos palcos
Ao lado de seu esposo, Karen estava nos Estados Unidos em 2020. Ao lado de grandes nomes do fisiculturismo mundial, como por exemplo Flex Lewis, o casal se preparava para a temporada. Foi então que a atleta começou a sentir fortes dores de cabeça após sofrer uma lesão no pescoço. O que nenhum dos dois esperava era que ela, na verdade, foi acometida por um aneurisma.
"Descobri que tinha um aneurisma na base da cabeça. O médico me disse que, como eu não poderia aumentar minha pressão arterial, o ideal seria que eu parasse de treinar. Logo, competir não era mais uma possibilidade. Tinha que permanecer o mais saudável possível. Caso eu operasse, talvez poderia voltar aos palcos", conta.
Como o problema não estava em um estágio avançado, uma eventual cirurgia não era urgente. No entanto, sem o procedimento invasivo, Karen não poderia retornar aos palcos: "O meu aneurisma não era muito grande, ou seja, não havia uma urgência pela operação. Então, como eu não me sentia preparada para a cirurgia, pensei em deixar o esporte".
"Fiquei nesse embate entre não fazer a cirurgia ou fazer. Depois de um tempo, decidi voltar ao Brasil e fazer essa cirurgia. O médico me disse que foi a escolha ideal, pois o aneurisma havia crescido. Mesmo após a cirurgia, ainda precisei ficar um ano sem competir, porque tem um exame final que você precisa fazer depois de um ano", relembra a fisiculturista.
Após os novos exames constatarem o melhor cenário possível, Karen pôde voltar a treinar com intensidade e se preparar para retornar às competições. Em 2022, a atleta conseguiu resultados expressivos e quase se classificou para o Olympia: "Foram dois anos nessa luta… consegui voltar competitiva. Tive resultados sensacionais".
"Consegui mudar isso e voltei a competir mais ‘leve’ do que nunca. Foi a preparação que eu mais curti. Foi 100% planejada. Levei a sério médico, fisioterapia, liberação miofascial, treino, alimentação muito saudável, etc. Foi a melhor resposta que o meu corpo poderia dar. Voltei a competir estreando na liga profissional e, de cara, peguei dois Top2. Muitas atletas que estão na ativa há anos ainda não conseguiram resultados como esses", completa.
Ao relembrar sua batalha contra o aneurisma, Karen aponta que "quando você passa por um problema de saúde, você percebe que sua saúde é seu bem mais precioso. Parece um clichê, mas é verdade. Se você não tem saúde, você não trabalha bem, não tem bons relacionamentos, não vive bem".
Relacionamento entre dois fisiculturistas profissionais
Os fãs de Karen e de Rafael veem que ambos servem de "pilar" um para o outro. No entanto, o relacionamento entre dois fisiculturistas profissionais tem seus desafios: "Temos que equilibrar nossas agendas".
Durante preparação para um campeonato, os atletas precisam manter a intensidade dos treinos mesmo com pouca energia. O déficit calórico, aliado a todos os outros fatores que envolvem uma competição de fisiculturismo, pode gerar altos níveis de estresse.
Karen avalia que, por ambos saberem, na prática, o que significa esse "sofrimento", um sabe como lidar com o outro. "Como desde o início já nos conhecemos como atletas, a gente já tinha essa maturidade e essa empatia um com o outro. A gente sabe o que é passar por uma preparação. Nessa fase, sabemos que a pessoa vai ficar um pouco mais estressada, mais exigente. De certa forma, até mais egoísta. Isso faz a gente melhorar e evoluir", explica.
"Quando não estamos em ‘bons dias’ - coisa que não acontece só com atleta - ficamos cada um em seu canto. Quando o outro está em uma situação mais ‘vulnerável’, suscetível ao estresse, a gente procura entender e saber o motivo. Sabemos que é, até certo ponto, natural. Aprendemos a lidar com isso", destaca a fisiculturista.
Apesar de o fato de levarem a mesma profissão ser benéfico por um ponto, há, também, a parte inconveniente. Por ser casada com um dos maiores do fisiculturismo brasileiro, Karen relata que, em diversas oportunidades, "precisava ter tantas conquistas quanto ele para ser ‘merecedora' (nos olhos dos críticos)".
"O Rafa sempre foi um atleta muito bem sucedido, desde o início. Sempre me nivelaram por ele. Então essa foi a maior dificuldade", afirma a atleta.
Em 2022, Brandão se tornou o primeiro brasileiro a participar da categoria Open (divisão em que não há limite de peso, onde estão os atletas mais musculosos) do Olympia em mais de 30 anos. Em 2023, Karen também quer buscar sua vaga para a competição e brilhar no palco mais importante do esporte.
Apoio aos animais
Um dos sonhos de Karen é fazer uma ONG destinada à assistência de cachorros em situação de rua. Nos últimos anos, ela e Brandão adotaram três cães. "A gente pensa que seria muito legal poder ajudar mais animais, e é daí que veio a ideia", ressalta.
"Nós dois sempre amamos animais. Eu, quando criança, não podia ver um animal na rua que já queria levar para casa. Cheguei a levar oito cachorrinhos filhotes para casa. Meu sonho era ser veterinária", conta a fisiculturista.
"A gente acredita que, para tudo aquilo que a gente gostaria de realizar, há o momento certo. Na melhor oportunidade - não importa se já estivermos aposentados do esporte. Pode ser neste ano, ano que vem ou até mesmo daqui cinco anos - a gente vai fazer. Queremos ajudar os cachorros. É uma ideia que a gente vem trabalhando", conclui a atleta.
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