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Reprodução/Instagram @reyphysique
Reprodução/Instagram @reyphysique

No esporte, há diversas histórias de superação. Grande parte dos campeões viveram momentos difíceis e passaram por situações adversas em suas vidas. Não foi diferente com Rafael Rey, o "Rey Physique", que lutou contra a depressão nos últimos anos e quer atingir o mais alto nível do fisiculturismo mundial em 2023.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, o atleta fala sobre sua relação com a internet, a pausa em sua carreira por conta da doença, a criação de conteúdo nas redes sociais e sua categoria.

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Men's Physique

Um dos meios que mais atraiu o público brasileiro para o fisiculturismo foi a Men's Physique, categoria criada no início da década passada na qual os atletas utilizam bermudas. Muitos fãs do esporte a enxergam como uma divisão "de entrada" para aqueles que querem começar a trilhar sua carreira nas competições, mas Rey discorda.

"Não enxergo dessa maneira. Acredito que a categoria escolhe o atleta. Então dá para você entrar direto em qualquer categoria. O que vai ditar qual categoria se encaixa melhor para o seu físico não é o desenvolvimento, e sim as características dele", explica o fisiculturista.

"Eu acredito no trabalho duro. Não pode faltar, é um dos pilares do fisiculturismo. Mas conforme eu fui me aprofundando na questão do conhecimento e tendo mais contato com outras pessoas, vi que o fisiculturismo é um esporte que envolve muito da genética. Vejo muita gente dedicada que evolui apenas até um certo ponto. Claro que, com um trabalho duro, você chega lá, mas um cara que tem genética e trabalha duro vai evoluir mais rápido", continua o atleta.

Dentro dos comentaristas esportivos, é levantado o debate de que a Men's Physique - que teve sua primeira aparição no Olympia (tido como a "Copa do Mundo" do fisiculturismo, o show mais importante do circuito profissional) em 2013 - mudou muito desde sua criação. Para algumas pessoas, a categoria já não é mais a mesma, tendo em vista que o nível de muscularidade dos atletas, hoje, é muito maior do que era há uma década.

Para Rey, a mudança foi benéfica: "Antigamente, a categoria Men’s Physique exigia um padrão mais ‘slin’, aquele shape de praia. Uma categoria de entrada no fisiculturismo, para a galera iniciar as competições. Com a evolução da categoria, a galera foi ficando cada vez mais musculosa, com mais volume. Eu, por ter um pouco mais de massa do que a Men’s Physique exigia na época, tinha que catabolizar para me manter na categoria que eu gosto… para mim, essa mudança foi positiva".

Redes sociais

Um fator que possibilitou e alavancou o crescimento do fisiculturismo no Brasil foi, sem dúvidas, a internet. A divulgação dos atletas nas redes sociais na última década possibilitou que, hoje, muitos deles vivam em prol do esporte.

Rey conta que "tem atletas que são ‘’ atletas. Já outros, como por exemplo o Felipe Franco e o Renato Cariani, movimentaram todo o cenário na internet". "Na minha opinião, o atleta tinha que ser completo. Se ele quer levar o fisiculturismo como profissão, ele não pode diferenciar um atleta de um influenciador", completa.

Para o fisiculturista, "se você quer ser completo, se você pensa em ser patrocinado, se você quer ganhar dinheiro e transformar um sonho em uma fonte de renda para se manter, você precisa ter essa visão. Acho que isso está entrando na cabeça das pessoas. Dá para você ser atleta e milhares de outras coisas".

"Antes, separaram muito o influenciador do atleta, até porque não existiam redes sociais antigamente. Hoje existe. O mundo inteiro está entrando na internet, não é só a musculação, não é só fisiculturismo, é tudo. Tudo está indo para as redes sociais, todas as empresas estão indo para o Instagram", aponta Rey.

Atualmente, o atleta também se dedica à criação de conteúdo por meio de suas redes sociais. Sua principal abordagem na internet é o humor, no qual ele faz parcerias e aborda diversos temas com esquetes.

Dentre todos os companheiros nas redes sociais, Rey destaca o produtor de conteúdo conhecido como Dudu Tomahawk: "Foi um cara que me puxou para cima quando eu estava ‘pra baixo’, estamos correndo juntos."

Depressão

Se a internet pode ser um ambiente que gera diversas pressões, o esporte também é um amplificador das cobranças. De acordo com o fisiculturista, a junção dos dois meios pode ter ajudado a agravar um problema que já era recorrente: "É uma somatória. Quem trabalha com internet geralmente se frustra muito. Dependendo do quão sério é aquilo, ele começa a se cobrar por números, performance, etc. Aí junta com o fisiculturismo, que é a mesma coisa. Se cobra por ser campeão, pelo corpo, pela preparação, etc."

"(As redes sociais) Podem, sim, ter ajudado um pouco (no quadro de depressão), mas hoje, com a visão que eu tenho, vejo como algo positivo, porque me ensinou muito a lidar com essa parte de redes sociais e a enxergar coisas que, antes, eu não via. Antes eu me perguntava se isso (comentários negativos) era algo que acontecia só comigo. Hoje eu sei que não. Acontece com todo mundo. Às vezes para, mas depois volta a acontecer. Isso é a internet. Mas como eu estava em uma fase vulnerável da minha vida, eu não estava bem comigo mesmo, eu me cobrava muito", ressalta.

Embora tenha conseguido superar a fase ruim, ele alerta para o problema e entende que ainda há um certo preconceito: "Se até mesmo a pessoa que sente tem uma resistência a procurar ajuda, eu até entendo uma pessoa que nunca passou por isso não entender como é".

Rey também afirma que "quando você percebe que está se afundando, é aí que você precisa buscar ajuda. Porque aí é muito mais fácil de sair... Hoje estou bem, mas é porque levei a sério, enxerguei a depressão como uma doença. Muita gente vê como algo que só te deixa triste e, no dia seguinte, você acorda bem. Mas não é assim." 

"Eu via acontecendo e ignorava. Quando percebi, eu já estava quase afundando. Foi aí que eu fui atrás de ajuda, mas foram três anos que eu praticamente perdi… Todo mundo precisa de ajuda, todo atleta profissional sério tem um certo acompanhamento nessa área", adverte.

Futuro

Em 2023, Rey quer se reaproximar dos fãs em suas redes sociais e, finalmente, conquistar sua vaga para o Olympia

"Quero competir o maior número possível de shows aqui no Brasil e pelo menos dois internacionais. Vou pular de cabeça e quero buscar uma vaga para o Olympia", garante.

Ele também observa que quem o acompanha na internet verá a pessoa por trás do atleta: "Jamais vou me limitar a ‘somente’ o fisiculturismo. Eu sou fisiculturista, mas também sou o Rey que gosta de Dragon Ball, sou o Rey que é ‘nerdão’, que gosta de cosplay, que gosta de humor. Quem me acompanha nas redes vai ver a pessoa que eu vou. Não vou postar só batata doce e frango, porque é isso que esperam de um atleta. Não. Você vai ver quem eu sou de verdade."