A 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 27, começou no último domingo (6) em Sharm el-Sheikh, no Egito, em meio a um cenário de eventos climáticos extremos em todo o mundo.
Neste ano, o evento tem como objetivo discutir detalhes sobre como desacelerar as mudanças climáticas e ajudar países que já sentem seus impactos. No segundo dia do evento, António Guterres, secretário-geral da ONU, alertou que a sociedade caminha para o "inferno climático" com "o pé no acelerador".
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, a assessora de Clima do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) Viviane Romeiro, especialista em mudança do clima e sustentabilidade, e que viajou para acompanhar a conferência, conta que nesta edição assistiu painéis sobre mercado de carbono, meios de implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), neutralidade climática, o papel do setor empresarial no fortalecimento da agenda e mais.
Segundo ela, os principais assuntos abordados na primeira semana foram: a necessidade de passar a discussão para a implementação dos compromissos que os governos assumiram no Acordo de Paris, o financiamento, assim como o tema da justiça climática e a necessidade de adaptação das nações mais pobres e vulneráveis. Os participantes ainda falaram sobre negociações para que a discussão sobre a implementação de mecanismos de precificação de carbono avance.
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Para ela, cada vez mais evidências científicas reforçam a importância da agenda, não apenas por questões ambientais, mas também nos âmbitos sociais e econômicos.
“Já se observa com maior frequência os efeitos adversos de eventos climáticos, como secas, inundações, ondas de calor e aumento do nível do mar. A adaptação às mudanças climáticas aumenta a resiliência do desenvolvimento econômico e social, em particular para os países mais vulneráveis às mudanças climáticas”, destaca.
Ao falar do ponto de vista do setor privado, a importância do assunto não diminui, já que para a especialista qualquer ação em direção oposta à descarbonização - processo de redução de emissões de carbono na atmosfera, especialmente de dióxido de carbono (CO2), - pode implicar na perda de competitividade, barreiras comerciais, geração de empregos e renda.
“Mostra-se cada vez mais fundamental que o setor empresarial atue com fundamento na corresponsabilização e na convergência dos esforços na implementação de políticas, compromissos públicos e investimentos que apoiem e levem ao governo uma agenda propositiva, de retomada econômica, que priorize educação, saúde, proteção social e sustentabilidade. Juntamente ao setor público, é importante que o setor empresarial invista em qualificação técnica e na adaptação da força de trabalho em toda a sua cadeia para essa nova era”.
O Brasil e as questões climáticas
Viviane, que já participou como especialista de comitês governamentais, trabalhou no World Resources Institute (WRI) com gerenciamento de projetos com o Governo Federal, governos subnacionais, setor privado e sociedade civil, fala sobre a posição do Brasil em relação ao tema e destaca que o mundo está em transformação para uma economia verde, mais limpa, inclusiva e atenta aos direitos humanos.
Por sua vez, o país, por suas características físico-geográficas e sociais, aparece como um dos estados com maior potencial para liderar essa agenda, entretanto, para que isso ocorra, é necessário adotar práticas sustentáveis. “Temos a oportunidade de promover a redução de injustiças sociais, inclusão e prosperidade com base em atividades de baixo carbono e que não esgotem nossos recursos naturais, além de criar empregos qualificados. A adoção de práticas sustentáveis impacta positivamente na imagem do país e atrai investimentos”, afirma.
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No entanto, caso o país escolha seguir pelo lado contrário, pode haver consequências que impactarão diretamente nos negócios. “Recentemente, houve a aprovação, pelo Parlamento Europeu, de uma medida que restringe a importação de commodities agrícolas associadas ao desmatamento de florestas tropicais, o que impacta nas negociações entre Mercosul e União Europeia. Crescem também as exigências do consumidor em não querer adquirir produtos ligados ao desmatamento ilegal ao redor do mundo”.
Já no caso do mercado regulado de carbono, por exemplo, a especialista explica que, embora iniciativas sobre o tema tenham sido propostas nos últimos meses, a discussão sobre a criação de um mercado regulado de carbono precisa ser avançada e aprimorada no âmbito do Governo Federal, com a participação dos Poderes Legislativo e Executivo.
A conferência não contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas com a do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que falou sobre a obrigação moral e ética de fazer reparação pelo o que foi causado aos povos indígenas, ofereceu o Brasil como país sede da COP30, além de apresentar propostas como “retomar o diálogo com os demais países amazônicos” e “alavancar o desenvolvimento sustentável”.
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